A árvore das coisas

No jardim de Maria crescem muitas árvores: uma macieira, um limoeiro, uma ameixeira e uma árvore das coisas. Da macieira, nascem maçãs. Do limoeiro, limões. Mas da árvore das coisas florescem estrelas, peixes, nuvens e também mariposas noturnas. Quando as flores das outras árvores dão lugar a seus frutos, o que acontece com a árvore das coisas? Para onde vão esses peixes, essas estrelas e essas nuvens? Coisas nascem das coisas ainda que, um dia, possam simplesmente desaparecer. Se olharmos atentamente, vemos que no jardim tem tudo que Maria precisa. Maria entra no jardim por uma fresta, como se nascesse ali, diretamente para dentro dele, a despeito do grande cadeado que fecha o portão. Cresce buscando descobrir o que a natureza guarda, tanto para si quanto para ela. Leva tempo, porque se leva tempo para entender o grande segredo de todo mistério: há coisas que não é possível saber. Maria deixa a entrada livre para os outros, não só pela fresta que abriu, mas por ter achado a chave que trancava o portão. Ali, Maria começa e termina sua jornada. María José Ferrada, uma das grandes poetisas da contemporaneidade dedicada à literatura para crianças, olha o mundo de maneira singela como aqueles que querem entender ou ficar com os mistérios da vida. Ela escreve como quem se relaciona com cada coisa, desvendando seu modo de funcionamento e suas relações por meio das palavras. A árvore das coisas é um livro que também fala de seu processo de criação, seu modo de observar e entender o que se lhe apresenta. Foi fazendo este livro que começou sua frutífera parceria com Miguel Pang Ly, um encontro orientado pela poesia, da palavra, da imagem, da construção do livro, que se faz todo metáfora, tal qual a árvore que sustenta os tempos do mundo.